sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O existencialismo é um humanismo

Na aula de ontem, a gente discutia a noção de bem em Sartre, se é que ele defende alguma idéia de bem... O bem é a própria escolha entre o bem e o mal (e entre todas as nuances de cinza que vão do preto ao branco), com a consciência da responsabilidade que essa escolha acarreta, para o bem ou para o mal. Nenhuma moral ou juízo de valor pré-estabelecido podem ajudar a realizar a escolha em situações concretas, e, assim, além da necessidade de escolher, a gente ainda tem que criar a própria moral que auxilie na escolha. O homem é invenção constante, é criação do nada. A moral sartreana, que nada tem de moralista, é uma moral da ação, do compromisso com as próprias escolhas, fazendo valer a liberdade que nos condena.

"O existencialista pensa que é muito incomodativo que Deus não exista, porque desaparece com ele toda a possibilidade de achar valores num céu inteligível; não pode existir já o bem a priori, visto não haver já uma consciência infinita e perfeita para pensá-lo; não está escrito em parte alguma que o bem existe, que é preciso ser honesto, que não devemos mentir, já que precisamente estamos num plano em que há somente homens."

Talvez a gente possa dizer que o bem supremo (de novo, se é que, alguma vez, ele pensou em bem supremo) é a própria liberdade - essa mistura de condição universal e condenação humana.

"Quando declaro que a liberdade, através de cada circunstância concreta, não pode ter outro fim senão querer-se a si própria, se alguma vez o homem reconheceu que estabelece valores no seu abandono, ele já não pode querer senão uma coisa - a liberdade como fundamento de todos os valores."

A busca constante é pela liberdade em si:

"Queremos a liberdade pela liberdade e através de cada circunstância particular. E, ao querermos a liberdade, descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade dos outros, e que a liberdade dos outros depende da nossa. Sem dúvida, a liberdade como definição do homem não depende de outrem, mas, uma vez que existe a ligação de um compromisso, sou obrigado a querer ao mesmo tempo a minha liberdade e a liberdade dos outros ; só posso tomar a minha liberdade como um fim se tomo igualmente a dos outros como um fim."

Queremos, sim, a liberdade. Será? Paradoxo dos paradoxos, a liberdade de escolha possibilita a própria liberdade de escolher entre ser livre ou não... Porque, apesar da condenação sartreana, ou justamente por causa dela - é a tal da má-fé - a alienação consciente e deliberada está aí! Lembrei do trecho de uma música do Dazaranha (uma banda de Florianópolis):

"O peixe, ele quer a rede ou ele quer o arpão? Ele quer água ou ele quer limão?"

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