quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ensaiando os Ensaios

"Não me encontro onde procuro, mas de repente, quando menos espero." (Montaigne)

Esta semana finalmente dei início a um projeto sempre adiado: ler os Ensaios, de Montaige.
Comprei o volume numa barganha incrível, em um sebo no prédio da Filosofia da USP, no meu último dia em São Paulo (era de fato o último: tinha ido apenas buscar meu diploma). Eu, que não sou de barganhar nada, hoje não me arrependo do chorinho de última hora...
Este livro pode ser considerado o mais remoto predecessor dos blogs atuais. Nele, o autor se propõe a escrever livremente sobre qualquer assunto que lhe interesse e que esteja intimamente ligado a sua pessoa. Deu origem, assim, ao gênero conhecido como "ensaio". Em sua apresentação, "Do autor ao leitor", que já promete uma certa aproximação, ele se explica:

Eis aqui, leitor, um livro de boa-fé.
Adverte-o ele de início que só o escrevi para mim mesmo, e alguns íntimos, sem me preocupar com o interesse que poderia ter para ti, nem pensar na posteridade. Tão ambiciosos objetivos estão acima de minhas forças. Votei- em particular a meus parentes e amigos e isso a fim de que, quando eu não for mais deste mundo (o que em breve acontecerá), possam nele encontrar alguns traço de meu caráter e de minhas idéias e assim conservem mais inteiro e vivo o conhecimento que de mim tiveram. Se houvesse almejado os favores do mundo, ter-me-ia enfeitado e me apresentaria sob uma forma mais cuidada, de modo a produzir melhor efeito. Prefiro, porém, que me vejam na minha simplicidade natural, sem artifício de nenhuma espécie, porquanto é a mim mesmo que pinto. Vivos se exibirão meus defeitos e todos me verão na minha ingenuidade física e moral, pelo mesno enquanto permitir a conveniência. Se tivesse nascido entre essa gente de quem se diz viver ainda na doce liberdade das primitivas leis da natureza, asseguro-te que de bom grado me pintaria por inteiro e nu.
Assim, leitor, sou eu mesmo a matéria deste livro, o que será talvez razão suficiente para que não empregues teus lazeres em assunto tão fútil e de tão mínima importância.

Na verdade, os assuntos fúteis e de tão mínima importância são textos deliciosos com temas como "Dos nossos ódios e afeições", "Como uma mesma coisa nos faz rir e chorar", "Da incerteza dos nossos juízos", "Da companhia dos homens, das mulheres e dos livros", "De como filosofar é aprender a morrer".
O livro tem um estilo tão próprio que foge a qualquer classificação simplista, sempre beirando entre literatura e filosofia. E lendo-o, torna-se um grande prazer conhecer não apenas o pensador, mas principalmente o homem que o escreve.

Um comentário:

blogger disse...



Primeiro agradecendo sua querida visita ao meu blog. Obrigado pelas palavras, obrigado pela identificação com as palavras que lá escrevi ...

Se sua amiga (se for minha amiga tbm, não sei ... : ))partilhou o link do meu blog com vc, eu agradeço ela pela preferencia. Falo isto com singeleza, pq o meu intuito é de compartilhar oq escrevo aqui, com pessoas que procuram um olhar mais alto sobre a vida, a existência ...

No exato momento li o texto sobre Montaigne ... e vou procurar agora sobre este filosofo, sempre gostei dele do pouco q ja li ...

Ah, e estou adicionado seu blog aos meus blogs amigos.

Um abraço, tudo de bom !