sexta-feira, 27 de junho de 2008

Lições - Uma história de amor... com final feliz

O final feliz da história é que o amor morre no final! Esta é a conclusão da palestra que o Flávio Gikovate deu, ontem, no auditório da CPFL, para a gravação do programa Café Filosófico.
Pegue tudo o que pensa saber sobre o amor e jogue fora. Bom, quase tudo. Uma lição aqui, uma nota ali, a gente vai aprendendo. Mas será possível aprender o amor?
Vamos aos fatos...
"O amor é o sentimento diante da presença de uma pessoa que causa paz e aconchego."
Tudo começa antes de existir... No útero da mãe, tudo é pleno e perfeito e nós vivemos o mais puro estado de harmonia original. Então, a primeira grande tragédia da existência: o nascimento. A entrada no mundo rompe com toda aquela perfeição a que estávamos acostumados e toda a vida será, a partir daí, uma busca incessante por aquele sentimento de harmonia e completude. Lembrando a imagem da vida no paraíso e a expulsão dele descrita pelo Gênesis, a existência, uma vez iniciada, encarna a absoluta impossibilidade de voltar para trás. Irreversível. Ânsia de absoluto.
Diante deste sentimento de incompletude, o amor parece figurar um bom substituto. Assim, transferimos para a busca amorosa o mesmo significado e expectativas daquela necessidade inicial. Poderia até funcionar bem, se não fosse outra necessidade tão forte quanto aquela: a garantia de nossa individualidade. O perder-se no outro significaria a abolição do próprio ser? Talvez. Sendo melhor não arriscar (afinal, a individualidade é algo que levamos a vida a construir), o negócio é não se doar por inteiro.
Além da individualidade, outro empecilho atrapalha o amor: o medo da felicidade. A lembrança daquela primeira grande separação traumática, em que se passou de um estado feliz ao caos, criou uma espécie de reflexo condicionado, que faz com que esperemos pela tristeza mesmo quando somos felizes. A felicidade traz consigo a sensação de iminência da tragédia.
Mais uma vez, para amar é preciso ter coragem. Mas, além disso, é preciso se desfazer um pouco da idéia de amor como fusão total de dois seres, que, ao menos nessa dimensão da existência, não são completamente fundíveis. O negócio é aprender a lidar com o vazio inicial, que, afinal de contas e não importa com quem estivermos vai nos acompanhar por toda a vida, e reconhecê-lo como parte de nós enquanto indivíduos, sem a necessidade desesperada de um tapa-buraco que lhe dê jeito.
É esse o amor que tem que morrer para que o amor possa ser.
Muito mais coisas foram ditas e a graça dos modos de dizer do Gikovate e da identificação com situações descritas também se perdem aqui. Uma palestra sobre o amor com um psicoterapeuta teve suas surpresas e suas iluminações.
De novo, eu pergunto: é possível aprender o amor? Não sei, mas podemos tentar.

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