sábado, 13 de março de 2010

Crítica ou resenha?

Na última aula de Jornalismo Online, descobri que não sei escrever crítica de cinema. Como assim? Eu, que adoro filmes, não sei escrever sobre eles? Escrever, até sei - ou acho que sei. Mas não é crítica, é resenha. A diferença? Boa pergunta! O choque da revelação e a urgência de ter que elaborar uma crítica em uma hora me fizeram fazer, sem saber exatamente como fazer.
A título de ilustração, publico aqui a resenha e a crítica.

Peixe Grande

O cinema é a arte de contar histórias por meio de imagens em movimento. Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, de Tim Burton, traduz bem essa arte.
William Bloom, jornalista norte-americano vivendo em Paris, volta à cidade natal para rever o pai, paciente terminal de câncer. Os dois não se falavam há três anos, por conta de uma incompatibilidade essencial: o pai vivia contando histórias, o filho já não queria ouvi-las. Agora sua última narrativa seria a da própria morte.
Quando criança, Edward Bloom viu o modo como iria morrer nos olhos de uma bruxa - conhecimento que o libertou do medo de outras ameaças. "Se você sabe como vai morrer, pode sobreviver a qualquer coisa."
Viver e narrar o fim é a última grande aventura, e a busca de William pela linha que separa os fatos da ficção e o homem do mito acaba levando-o à descoberta de quem realmente é o seu pai.
Edward Bloom é um contador de histórias. Sua vida, plena de acontecimentos mirabolantes e personagens memoráveis, girava em torno de uma lenda: a do peixe grande. O ser inalcançável simbolizava a busca incansável. "O maior peixe do rio fica desse tamanho porque nunca é pego". Ambição, perseverança e astúcia levam Edward à jornada de se tornar maior que si mesmo.
História do Gigante. História da partida, da estrada desconhecida e de Spectre, a cidade perfeita. História do circo e do encontro com a garota do seu destino. História do grande amor. História da guerra e das gêmeas cantoras. Histórias de caixeiro-viajante e do assalto ao banco. História da destruição e reconstrução de Spectre. Jennifer Hill e a história da fidelidade. A história final.
Histórias ou mentiras? A rendição do filho ao encanto das lendas do pai acontece também em forma de narrativa. William assume a narração de como Edward vai morrer. Os papéis se invertem. O filho conta uma história para o pai. "Você se torna o que sempre foi: um peixe grande. E é assim que acontece".
Peixe Grande é a história de um reencontro, de aceitação e descoberta - a incrível jornada de tornar-se quem se é.

Superação sem clichês

Filmes de superação formam um filão lucrativo na indústria cinematográfica. Roteiros melodramáticos, trilha sonora tocante e astros carismáticos garantem lágrimas e a sensação de se ter tido uma “lição de vida” ao sair da sala. O Jardim Secreto, Jack¸ Meu Nome é Rádio, À Espera de um Milagre, Um Prova de Amor - a lista pode seguir infinitamente. Filmes que conquistaram espaço nos corações de espectadores em todo o mundo, mas não são, necessariamente, uma obra de arte. Apenas entretenimento. Tire todos os ingredientes da receitinha hollywoodiana convencional, e será que ainda é possível um belo filme de superação? O Escafandro e a Borboleta mostra que sim.
Lançado em 2007, o filme é baseado em uma história real. Jean-Dominique Bauby (uma interpretação memorável de Mathieu Amalric) tem 43 anos, é um famoso editor da revista Elle e um reconhecido bon vivant. Após sofrer um derrame cerebral, Bauby passa a viver em uma cama de hospital, tendo que enfrentar uma paralisia rara, que lhe permite apenas o movimento do olho esquerdo. A limitação o obriga a aprender a se comunicar piscando o olho. De letra em letra, ele forma palavras, frases, um livro. Sua obra é expressão do mundo que criou para sobreviver.
O roteiro, assinado por Ronald Harwood, é baseado no livro autobiográfico de Jean-Dominique Bauby. A fidelidade ao texto original é garantida por conta do recurso da narração em off feita pelo personagem principal. Seria clichê, se não fosse a direção primorosa de Julian Schnabel. A escolha dos ângulos e os movimentos de câmera acompanham o olho esquerdo de Bauby, garantindo cenas ora poéticas, ora angustiantes. A originalidade do recurso acerta em cheio e comove, sem sentimentalismo barato.
Não à toa, Schnabel, diretor de Basquiat - Traços de uma vida (1996) e Antes do Anoitecer (2000), levou em 2008 dois Globos de Ouro (melhor filme estrangeiro e melhor direção), o prêmio de melhor diretor e o Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes. Além disso, O Escafandro e a Borboleta foi indicado ao Oscar nas categorias melhor diretor, fotografia, edição e roteiro adaptado.
O filme é, sim, uma lição de vida. Mas acima de tudo é uma grande lição de cinema.