segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Yoga pela Paz

O que um bando de "malucos", cantando mantras, inventando cirandas e dividindo uma manhã de domingo de sol e chuva, tem que nos faz tão bem? Talvez não tenha explicação, e, se tivesse, talvez não teria tanta Graça. Isso é Yoga pela Paz.
O nome do evento não é vão. Uma manhã no Parque do Ibirapuera é suficiente para nos resgastar de nós mesmos e nos levar de volta para aquele lugar em nós em que somos paz, serenidade, bem-aventurança e amor.
A manhã era de vento e frio, o parque gelado. A esperança de sol tentava aquecer. Nathália e Elaine duvidavam. Pessoas mais que especiais dividindo momentos especiais. Um breve passeio. Mais frio. De repente a música. Jai Uttal. Somos o som. A aula da professoa Núbia Teixeira e a sensação real da presença divina em nós e em tudo e todos ao nosso redor. Somos uma árvore. A meditação da Márcia de Luca e o exercício de perdão. Somos o lago. Krishna Das. A companhia de pessoas queridas, o reencontro com pessoas queridas, a lembrança de pessoas queridas. Somos Amor.
O dia não foi de mágica nem de encantamento. Foi de Realidade. De encontro com a real natureza do nosso Ser.
Namastê, o Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você.
Agradeço a Nathália, a Di, a Ana Cristina, a Iva, o Seu Paulo, pai da Nathália, a minha mãe, o Seu José, e a todos os "malucos" no parque, por um dia perfeito!

sábado, 14 de agosto de 2010

Aforismo


"O riso é o início da oração"

(Rubem Alves, na Bienal do Livro, em São Paulo)

domingo, 8 de agosto de 2010

Filosofia de vida


"Um homem é rico em proporção ao número de coisas de que pode prescindir." (Thoreau)

Não gosto muito da expressão "filosofia de vida", talvez por acreditar que ela não faça jus nem à filosofia, nem à vida, ou como se viver seguindo uma (ou crer que se vive de acordo com uma) fosse uma dessas ilusões que usamos para dar significado à existência. Uma bobagem, assim como "ter uma ideologia". Mas encontrei um caso, ou melhor, três, em que a expressão fez sentido pra mim. Na natureza selvagem, o filme. Into the wild, a trilha sonora. Thoreau, a inspiração.
O filme narra a história real de Christopher McCandless, que abandona tudo ao terminar a faculdade, para viver na natureza, seguindo um estilo de vida pouco usual, em nada ditado pelos padrões sociais. No caminho de desprendimento, ele se torna Alexander Supertramp. Dirigido por Sean Penn, o filme é dividido em fases que correspondem à trajetória de iluminação de McCandless/Supertramp. Surpreendente, intrigante, transformador. É praticamente impossível sair ileso ou não ser tocado em pelo menos uma ideia na teia embolorada de nossas mentes. Na natureza selvagem é um desses "filmes de cabeceira" que nos acompanha ao longo da vida, caso a nossa alma não envelheça.


A trilha sonora de Eddie Vedder é igualmente iluminadora. A sonoridade é deliciosa e emoldura a narrativa de modo perfeito. Letras como "Society, you're a crazy breed, hope you're not lonely without me" (Society), "I'll take this soul that's inside me now like a brand new friend I'll forever know" (Long Nights), "On bended knee is no way to be free" (Guaranteed), traduzem em forma de música a filosofia vivida por Christopher. A lista se completa com Setting Forth, No Ceiling, Far Behind, Rise, Tuolumme, Hard Sun, The Wolf e End of the Road. A trilha, mais um caminho de iluminação.


Henry David Thoreau (1817-1862) é um propragador dos ideais anarquistas (nesse sentido, vale a pena ler Desobediência Civil) e precursor da geração beatnik e do movimento hippie, defendendo princípios libertários, o desapego à sociedade e suas normas, e a vida simples na natureza. Absolutamente iluminador. É um dos autores que inspiram McCandless/ Supertramp. Walden, o livro que não o abandona. Na natureza selvagem é uma verdadeira materialização de suas ideias.

"Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido. Não desejava viver o que não era vida, a vida sendo tão maravilhosa, nem desejava praticar a resignação, a menos que fosse de todo necessária. Queria viver em profundidade e sugar toda a medula da vida, viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de pôr em debandada tudo que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso; encurralá-la num beco sem saída, reduzindo-a a seus elementos mais primários, e, se esta se revelasse mesquinha, adentrar-me então em sua total e genuína mesquinhez e proclamá-la ao mundo; e se fosse sublime, sabê-lo por experiência, e ser capaz de explicar tudo isso na próxima digressão." (Walden)

(Dedico essa postagem a três amigos: Vinícius, a primeira pessoa a me falar do filme e leitor antigo de Thoreau; André Rolim, por me lembrar do filme e me indicar outros também; e Igor, por ter me emprestado o filme e dividir comigo o interesse por essa "filosofia".)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Penso, logo existo?


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Meditação

Experiência da professora de yoga Nicole Rodrigues, em um retiro Zen Budista

Não foram 4 dias maravilhosos. Não foram. Foram dias áridos, secos e de muitos, mas muitos mesmo, diálogos internos. Eu comi o pão que Buda amassou.No Zen Budismo não se faz meditação. Se faz zazen. Zazen, literalmente, significa sentar Zen.
(...) A nossa mente é uma coisa. Tão complexa, tão intrincada, que será eternamente objeto de estudo da ciência. Somos seres condicionados. Desde sempre condicionados. Viciados em pensar. Viciados em pensamentos dicotômicos. Isso é feio, isso é bonito, ela é inteligente, ela é burra, ele é gordo, ele é magro, estou triste, estou alegre, minha vida é boa, minha vida é ruim, eu queria ser assim, mas eu não sou assim, eu queria que minha vida fosse assim, eu queria que minha vida fosse assado, a escola dela tem mais alunos que a minha, portanto a escola dela é melhor que a minha, ela sabe isso, ela sabe aquilo, eu não sei isso, eu não sei aquilo, eu sou virginiana, ela é sagitariana, virginiano é uma mala sem alça, sagitariano é tudo de bom, meu emprego tá ruim, meu emprego tá bom, hoje tá frio, hoje está quente, meu zazen tá ruim, meu zazen tá bom, estou com pouco dinheiro, estou com muito dinheiro, se eu tivesse feito isso eu teria mudado minha vida, se eu tivesse falado aquilo naquela hora, se isso, se aquilo, se não isso, se não aquilo se se se se se sesesesesese blá blá blá aaahhh. É uma forma de pensar exaustiva. Somos grandes auto-sabotadores. Todos os três dias de retiro eu pensei: "Hoje eu vou embora. Vou dizer para Sensei que minha mãe ligou ou dizer que aconteceu um imprevisto e terei que sair antes, isso, aconteceu um imprevisto é uma excelente frase, sem explicações, simplesmente um imprevisto, ok".
(...) Mais um zazen, ô parede IN-SU-POR-TÁ-VEL. Blá blá blá blá blááá. Sino, please. Sinooooo. Buda, você me paga, te pego lá fora. Ardilosa, a mente tentava de todo jeito se manter no comando como ela sempre fez, falando, falando, falaaaando. Ai, estou com vontade de gritar, de chorar, quero mexer minha perna, ai minhas costas, maldita dor no meio das costas. Ainda faltam dois dias. Caramba, dois dias. O que significa mais 25 zazens, contando com as que restam hoje. Om om om, blá blá blá. Toca o sino, que inferno.
(...) Quarto dia. Algo aconteceu. Eu pensei tanto, mas tanto, que acho que esgotei todos, quer dizer, quase todos, os pensamentos. Primeiro zazen do dia...aaahhhhh, que maravilha. Mente quieta, coluna ereta, o coração tranquilo. Oi, parede. Te amo! Buda, você é tudo.
Aiai silencio ........................................... nossa, mas se eu não pensar, vou fazer o que então? Quase não estou pensando, mas se eu não pensar vou ser o quê, vou fazer o quê? "Abra mão dos pensamentos". Nenhum om sequer. Nada...ai que gostoso ........................................ é isso, é isso! Simplesmente Ser, estar, sem julgar, sem comparar, sem questionar, sem objeto de concentração, sem me sabotar, sem me culpar, sem achar que sou isso ou sou aquilo ........................................ Segundo zazen: aiai ........................................... Terceiro e último zazen do retiro: .............................................. que maravilha, que retiro maravilhoso, por que a gente sofre tanto com os nossos pensamentos? Para onde eles nos levam, o que conseguimos pensando tanto, para quê? Por que nos identificamos tanto com os nossos pensamentos? Por que não conseguimos simplesmente Ser?
(...) Agora é que vem o grande desafio. Cultivar o zazen sozinha, sem a sangha (comunidade), sem o grupo. Sentar. Ser. Simplesmente sentar e Ser. Um pouco todo dia, um sadhana, uma prática. Só sentar. De frente para a parede. Simples assim, difícil assim. Transformador assim.

(Veja o texto completo aqui)