terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O eu e o tempo

"O tempo é particularmente significante para o homem porque é inseparável do conceito do eu. Somos conscientes de nosso próprio crescimento orgânico e psicológico no tempo. O que chamamos eu, pessoa ou indivíduo, é experimentado e conhecido somente contra o fundo da sucessão de momentos e mudanças temporais que constituem sua biografia. Mas como é possível que aquilo que está sujeito a constante mutação possa ser chamado de mesma pessoa ou de um eu idêntico? Como pode o homem ser 'para si mesmo' se ele sempre sente a si mesmo como diferente e se é conhecido como diferente de momento a momento no tempo? O que é o homem afinal, se nada mais é do que uma vítima da sucessão e da mudança temporais? O que perdura - se algo perdura - através do fluxo sempre mutável de consciência do indivíduo? Por conseguinte, a pergunta 'o que é o homem' reporta-se à pergunta 'o que é o tempo'. A busca de um conhecimento do eu leva à recherche du temps perdu. E quanto mais seriamente os seres humanos se engajam nessa busca, mais se tornam preocupados e envolvidos com a consciência do tempo e seu significado para a vida humana."

(O tempo na literatura, Hans Meyerhoff)

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