quarta-feira, 28 de março de 2012

O monge e o filósofo

O pai, Jean-François Revel, um dos principais pensadores franceses da filosofia contemporânea. O filho, Matthieu Ricard, um doutor em biologia molecular e pesquisador do Instituto Pasteur que abandonou tudo para se tornar monge budista. Apesar do título, que pode sugerir um daqueles livros de autoajuda oportunistas, O Monge e o Filósofo apresenta um rico debate entre a tradição espiritual do oriente e a tradição filosófica do ocidente. Metafísica budista, busca espiritual, o sentido da vida, a ação no mundo, são alguns dos questionamentos presentes no diálogo, em que budismo e filosofia são contemplados e confrontados a partir dos princípios que guiaram as escolhas de vida do monge e do filósofo. A seguir, um exemplo do embate de ideias:

M - (...) Nada existe em si, independentemente de outros fenômenos. Cada um dos elementos da cadeia de causa e efeito é, por sua vez, um composto de elementos fugidios em perpétua mudança. Este é um argumento que põe em evidência a não realidade dos fenômenos autônomos e permanentes, seja se trate de um Deus criador ou de um átomo que exista por si mesmo, sem causas nem condições, com independência dos outros fenômenos.
J.F. - Esta também é uma problemática que reaparece ao largo de toda a filosofia ocidental. Às vezes, os fenômenos existem e são a realidade, e é o que se chama escola empirista ou realista. Às vezes, os fenômenos são uma ilusão total, e é o que se chama o idealismo absoluto, a filosofia de Berkeley, por exemplo, no século XVIII. Outras vezes, os fenômenos são um caos de coisas que se sucedem, mas nas quais a relação causa e efeito é completamente ilusória: é a filosofia de Hume. E às vezes, o fenômeno não é a realidade em si, mas uma espécie de síntese, um encontro entre a realidade em si que não conhecemos, que está atrás dos fenômenos, e a atividade construtora da mente humana; uma espécie de resultado intermediário entre a matéria-prima oferecida pela realidade em si e a capacidade de elaboração da mente humana. Dito de outro modo, é ao mesmo tempo real, oferecido metade pelo mundo exterior, e metade construído pelo espírito humano. Tal é, resumida grosseiramente, a teoria de Kant em Crítica da razão pura. Todos os casos foram tratados, portanto, na filosofia ocidental. Na minha opinião, não creio que isto seja um verdadeiro problema. Se os fenômenos não existem no budismo, o que é que existe?
M - O budismo adota uma via intermediária. Não nega a realidade dos fenômenos no mundo relativo das percepções, mas o fato de que existam entidades permanentes por trás dos fenômenos. Por isso se fala de um "caminho do meio", que não cai nem no niilismo, para o qual nada existe fora das nossas percepções - tudo é nada -, nem no "eternalismo", sem dúvida o realismo ao qual você se refere, para o qual existe uma realidade única e independente de qualquer percepção, que estaria composta por entidades existentes em si. O tipo de entidades sólidas que o budismo rejeita são, por exemplo, as partículas indivisíveis da matéria e os instantes indivisíveis da consciência. Coincidimos assim com a formulação dos físicos modernos, que abandonaram a ideia de partículas comparáveis a pequenas balas de canhão ou a massas infinitamente pequenas. O que se chama massa ou matéria é antes uma espécie de condensação da energia.
(...) Quando o budismo fala da "vacuidade" dos fenômenos, diz que os fenômenos "aparecem", mas que em nenhum caso refletem a existência de entidades fixas. (...) Segundo o budismo, os átomos não podem ser considerados entidades fixas, que existem de uma maneira única e determinada; portanto, como poderia ter realidade fixa o mundo da manifestação bruta, supostamente integrado por estas partículas? Tudo isto contribui para destruir a ideia sobre a solidez das aparências. E, neste sentido, o budismo afirma que a natureza última dos fenômenos é vacuidade, e que esta vacuidade leva em si um potencial infinito de manifestações.
(...) ao demonstrar que não podem existir partículas indivisíveis, o budismo não pretende explicar fenômenos físicos no sentido em que a ciência entende atualmente: tenta antes romper o conceito intelectual da solidez do mundo fenomênico. Pois este conceito é o que faz com que nos aferremos ao "eu" e aos fenômenos e é, portanto, a causa da dualidade entre si mesmo e os demais, entre a existência e a não existência, entre o apego e a repulsão etc., e também a causa de todos os nossos sofrimentos. Em qualquer caso, o budismo entronca aqui, de uma perspectiva intelectual, com algumas teses da física contemporânea, e sua contribuição deveria ser incluída na história das ideias. Gostaria de citar, por exemplo, um dos grandes físicos de nossa época, Henri Margenau, professor da Universidade de Yale, que escreveu: "Ao final do século XIX, se afirmava que todas as interações implicavam objetos materiais. Na atualidade, isso já não costuma ser considerado uma verdade. Antes se pensa que se trata da interação de campos de energia ou de outras forças que são, em linhas gerais, não materiais". E Heisenberg dizia: "Os átomos não são coisas". Para Bertrand Russel: "A ideia de que há por aí uma bolinha, uma pequena massa sólida que seria o elétron, é uma intrusão ilegítima do senso comum, derivada da noção de tocar"; e logo acrescenta: "A matéria é uma fórmula cômoda para descrever o que ocorre ali onde, de fato, a matéria não existe, onde não há, portanto, nada". Por outro lado, sir James Jeans chegou a dizer em suas Rede's Lectures que "o universo começa a parecer-se mais com um grande pensamento que a uma grande máquina".

terça-feira, 20 de março de 2012

A todo volume

Jimmy Page (Led Zeppelin), The Edge (U2) e Jack White (The White Stripes) numa jam session, intercalada com muitas histórias e muita troca de figurinha sobre a paixão e a arte de tocar guitarra.
A todo volume (It might get loud), documentário para ver e ouvir, over and over again...