quarta-feira, 26 de junho de 2013

O guarda-chuva azul

Um guarda-chuva azul se apaixona por uma guarda-chuva vermelha em uma noite de chuva forte. É essa basicamente a história do novo curta da Pixar, O guarda-chuva azul, lançado e exibido no cinema junto com Universidade Monstros (que, por sinal, também vale muito a pena ver).
Apesar da simplicidade do roteiro - ou justamente por causa dela - o curta atinge a perfeição em imagens e emoção. Muitos "ouns" garantidos.
Li um texto no blog da MTV americana que trazia no título "The cutest thing you'll see today". Realmente, O guarda-chuva azul é uma das coisas mais fofas para se ver em matéria de cinema.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Museu

Se houvesse
um museu
de momentos

um inventário
de instantes

um monumento
para eventos
que nunca aconteceram

se houvesse
um arquivo
de agoras
um catálogo
de acasos

que guardasse por exemplo
o dia em que te vi atravessar a rua
com teu vestido mais veloz

se houvesse
um acervo
de acidentes

um herbário
de esperas

um zoológico
de ferozes alegrias

se houvesse
um depósito
de detalhes

um álbum
de fotografias
nunca tiradas

(Ana Martins Marques)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Do que eu falo quando eu falo de corrida

Escrever é como correr. Talvez a comparação seja disparatada, mas para o escritor e corredor japonês Haruki Murakami resume sua trajetória e o sentido de sua existência.
Autor consagrado, ganhador de diversos prêmios e sempre possível candidato ao Nobel de literatura, Murakami começou a correr quando começou a escrever, e as duas atividades nasceram de uma firme decisão. Simples assim. Um dia, vendo um jogo de basebol, percebeu que poderia escrever. E assim o fez.
A vontade de correr surgiu da necessidade de modificar todo o seu estilo de vida - antes de virar romancista, Murakami gerenciava seu bar de jazz em Tóquio -, e ficar mais saudável para conseguir se tornar um melhor escritor. Ideia pouco usual, considerando-se a imagem estereotipada do artista boêmio de vida desregrada. Talento de escritor cultivado, hábito de corredor criado, não demorou muito para Murakami tomar gosto por maratonas, passando a correr  pelo menos uma por ano.
Do que eu falo quando eu falo de corrida não é uma manual de corrida, nem um livro do tipo "corra e seja feliz". É o relato pessoal de um escritor que encontrou no ato de correr não apenas uma metáfora e um ponto de apoio para sua arte, mas também um caminho de autoconhecimento.

"A maior parte do que sei sobre escrever, aprendi correndo todos os dias. São lições práticas, físicas. Até onde posso me forçar? Quanto descanso é apropriado - e quanto é demais? Até onde posso levar alguma coisa e ainda assim mantê-la decente e consistente? Quando uma coisa se torna tacanha e inflexível? Quanta consciência do mundo exterior devo ter, e quanto devo me concentrar em meu próprio mundo interior? Em que medida devo ter confiança em minhas capacidades, e quando devo começar a duvidar de mim mesmo? Sei que se eu não tivesse me tornado um corredor de longa distância quando me tornei romancista, minha obra teria sido vastamente diferente. Quão diferente? Difícil dizer. Mas alguma coisa definitivamente teria sido diferente.
Em todo caso, fico feliz por não ter parado de correr em todos esses anos. O motivo é o seguinte: gosto dos romances que escrevi. E fico ansioso para descobrir que tipo de romance vou produzir em seguida. Uma vez que sou um escritor limitado - uma pessoa imperfeita vivendo uma vida limitada, imperfeita -, o fato de que ainda consiga me sentir desse jeito é uma verdadeira realização. Chamar de milagre talvez seja exagero, mas realmente me sinto desse jeito. E se correr todo dia me ajuda a realizar isso, então sou muito grato por correr.
As pessoas às vezes zombam de quem corre todo dia, alegando que é uma tentativa desesperada de viver mais. Mas não acho que esse seja o motivo pelo qual a maioria corre. A maioria dos corredores corre não porque queira viver mais, mas porque quer viver a vida ao máximo. Se você quer desfrutar os anos, é muito melhor vivê-los com objetivos claros e plenamente vivo do que numa bruma, e acredito que correr ajude a fazer isso. Forçar a si mesmo ao máximo dentro de seus limites individuais: essa é a essência de correr, e uma metáfora aplicável à vida - e, para mim, ao ato de escrever, também. Acredito que muitos corredores concordariam."
*
Para mais Murakami, fica a indicação do instigante romance Kafka à beira-mar (Aqui, em edição portuguesa, mas o livro já foi publicado no Brasil pela Alfaguara/Objetiva):